Ficção cristã: autora explica como as histórias podem edificar a fé dos leitores
Luisa Cisterna é uma autora brasileira que tem trabalhado para promover a ficção cristã no Brasil. A autora de 29 livros, mora no Ca...
Luisa Cisterna é uma autora brasileira que tem trabalhado para promover a ficção cristã no Brasil. A autora de 29 livros, mora no Canadá e contou ao Guiame sobre o crescimento da ficção no meio cristão.
Casada com o pastor Jaime, intérprete oficial do evangelista Will Graham, Luisa destacou suas obras de maior reconhecimento público. Em primeiro lugar, a autora citou “A Lojinha dos Corações Partidos” como sendo a mais popular.
“É uma série que se tornou popular pelo título e aborda a violência doméstica, mais especificamente sobre a violência psicológica e verbal”, disse Luisa ao Guiame.
“A gente tende achar que a violência doméstica é só a física, como se já não fosse horrível o suficiente, e muitas mulheres têm se identificado, porque não é um assunto tratado nas igrejas. É tudo muito velado. As igrejas acobertam ou simplesmente ignoram que isso ocorra no meio cristão”, acrescentou.
Luisa explicou que aborda esse tema de uma forma graciosa, trazendo esperança e possibilidade de recomeço para a mulher, levando-a a entender sua identidade em Cristo.
Em segundo lugar, a autora destacou o primeiro livro da série “Amor no Oeste do Canadá”, que se chama “A Promessa”.
“Se trata de um estupro e como a protagonista encontrou graça em uma comunidade e a cura através do amor, não só o amor romântico, mas o amor de uma comunidade”.
Amor e relacionamentos
Residente do oeste do Canadá, Luisa contou que suas histórias se baseiam em sua própria experiência sobre a história e cultura do local.
Muitos de seus livros retratam o amor e os relacionamentos humanos. Sobre essa abordagem, a autora disse: “A minha abordagem trata muito da mulher e do mundo feminino. Grande parte do mundo feminino são relacionamentos. Eu não trato só do relacionamento amoroso, embora meus livros sejam romances românticos, eu não trato só disso. Tem todos os relacionamentos da mulher ali ao redor da história”.
Luisa citou o livro “Laço de Cura” que conta a história de uma mulher que perdeu a filha e o marido e encontra em uma comunidade de idosos, uma nova família.
“Eu trato também de relacionamentos de pais e filhos, de casais mais idosos com problemas como demência. Então, assim, é o mundo feminino e no mundo feminino os relacionamentos são muito importantes, por isso esse foi um dos motivos pelos quais decidi escrever romance cristão em uma perspectiva cristã, mas da visão feminina, de tudo que cerca a mulher”, explicou ela.
‘Estratégia evangelística?’
Luisa começou a ler ficção cristã entre o final dos anos 1980 e início dos anos 1990. Quando se mudou para estudar no Canadá, ela descobriu que, nas bibliotecas públicas, havia diversos livros de ficção cristã de vários gêneros.
“Eu comecei a ler muito. Consumia muita ficção cristã. Então, trato de um assunto que é comum a todos nós, mas com esse olhar de graça e esperança. Por isso, eu escolhi essa abordagem porque eu gosto e acredito”, relatou a autora.
Segundo Luisa, suas produções não têm um foco evangelísico porque seu público costuma ser adultos cristãos. No entanto, afirmou: “Se a pessoa vier a conhecer o Evangelho através dessa leitura, para mim já é um bônus”.
E continuou: “Alguns dos meus livros são bem explícitos em relação ao Cristianismo, mas eu sou mais sutil, mais implícita. Mas, a pessoa vai ver que é uma cosmovisão cristã, na minha abordagem em relação aos relacionamentos de família, o que eu acredito que é o valor da vida e do ser humano”.
Falando sobre valorizar a vida, a autora mencionou que tem um livro que fala sobre o aborto. Durante a conversa, ela detalhou como essa questão é tratada no Canadá:
“Aqui, nós não temos nenhuma lei que fala sobre a proteção do feto. É horrível, você pode abortar em qualquer idade gestacional, e eu abordo isso de uma forma graciosa”.
Luisa. (Foto: Reprodução/Instagram/Luisa Cisterna)
A ficção cristã e a Palavra de Deus
Os livros de ficção cristã na língua inglesa, são livros com uma abordagem mais madura que abordam temas como abuso infantil, tráfico humano e outros temas. Conforme informou Luisa, “não esconde as mazelas do ser humano, assim como a Bíblia”.
“A Bíblia é um livro ‘pesado’ porque traz o pior do ser humano, mas que aponta para a Cruz, para uma mudança de mente e trabalhar no caráter”, declarou ela.
Nesse momento, a autora refletiu sobre de que forma a ficção cristã pode atrair leitores não cristãos a se envolver com princípios bíblicos narrados em seus livros.
Para ela, os não cristãos têm preconceito com a ficção cristã porque talvez não tiveram uma boa experiência.
“Há muitos livros que são muito pesados no sentido de julgamento, onde os personagens cristãos são perfeitos e os personagens não cristãos são os vilões da história. E a gente sabe muito bem que não é assim que funciona. Todos nós estamos numa caminhada, os não convertidos são escravos do pecado, mas os cristãos também pecam”, disse ela.
E continuou: “Então, eu acho que isso é uma coisa que afasta muito e, para a gente atrair o público não cristão, temos que mostrar o que o Evangelho é, que, na verdade, é a graça. Mostrar a natureza humana, mas mostrar a graça de Deus sempre presente para perdoar. Então, temos sempre que abordar pelo lado da graça e não pelo lado do julgamento”.
Para os jovens, Luisa destacou a importância da apresentação do romance cristão no entretenimento em uma cultura de perversão e distorção do amor de Deus.
“Por causa das redes sociais e da internet, todos nós temos acesso a materiais muito ruins e danosos à nossa alma. Temos visto como isso tem afetado os nossos jovens com depressão, suicídio e ansiedade. E não necessariamente porque eles estão vendo pornografia, mas porque estão vendo uma competição nas redes sociais”, afirmou a autora.
Segundo ela, a ficção cristã para jovens tem crescido e os alcançado: “Então, eu acho que é de extrema importância que a ficção cristã, principalmente para jovem, seja bem difundida”.
“É uma questão de apresentação e divulgação. Porque no fundo, eu sinto que as pessoas estão cansadas dessas invasões das redes sociais, e do lixo que é apresentado. No fundo, mesmo não sabendo, elas estão cansadas. Então, eu acho que cabe a nós cristãos escrever boa ficção que alcance o público jovem, distribuir e promover esses autores seja no que for”, acrescentou.
Sobre a autora
Luisa Cisterna nasceu no Brasil, mas seu país de adoção é o Canadá, onde mora com a família. Leitora ávida desde criança, sua paixão pelas letras cresceu ao fazer o curso de inglês e literatura na UERJ, quando tomou a decisão de ensinar a língua inglesa fora do Brasil. O sonho foi realizado no Canadá em 1992, mas foi em 2006 que a oportunidade de morar e trabalhar definitivamente neste país aconteceu.
Hoje ela dá aulas de inglês em um College de Calgary e escreve crônicas e romances. Luisa se inspira nas maravilhosas paisagens do oeste do país para criar suas histórias.